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terça-feira, 30 de junho de 2015

Barzinhos

De todos os barzinhos que me foi dado conhecer nos meus caminhos, dois foram de longe e sem a menor dúvida os mais extraordinários que conheci: Barzinho Skalla e Barzinho do Tio Pedro, ambos localizados na Vila Guilhermina, aqui em Montes Claros. De propriedade de Reinaldo e Haroldo, Figuraças que se tornaram grandes amigos meus. Todo boteco tem cenas pitorescas, mas no caso do Skalla e do Tio Pedro eram especiais, pois quase sempre os seus proprietários eram os protagonistas dos acontecimentos.

De uma forma geral, o botequeiro não pode ser um homem como qualquer outro. É preciso que ele tenha, antes de qualquer coisa, uma boa dose de paciência e muito carisma. No caso dos proprietários dos barzinhos citados, não faltavam essas qualidades, mas como tudo na vida tem limite, às vezes eles não se continham.

Vou narrar alguns acontecimentos que eu presenciei:

No barzinho Skalla, duas moças estavam bebendo, e na hora de acertar a conta houve um impasse: uma das moças alegava que Reinaldo estava cobrando uma cerveja a mais, fato que muito o irritou, mas tentando manter a calma explicava que ele não estava enganado e que a conta era aquela mesma. A moça não concordava de jeito nenhum e insinuou que ele estava roubando. Ele perdeu a paciência e começou a discutir freneticamente por muito tempo. Eu e a outra moça, amiga da outra que discutia, tentamos interferir e nada deles escutarem, continuando a discussão. Já passado algum tempo, e com os argumentos xingatórios se esgotando, a moça, visivelmente abatida, encerrou dizendo:

_ Vou parar por aqui, seu grande idiota!
Reinaldo para não sair perdendo na discussão, por fim, disse:
_ Idiota? Idiota? Idiota está no meio de suas pernas!

Nesse mesmo barzinho, eu me lembro de uma noite ter recebido dos dois proprietários R$40,00 (Quarenta reais) de cada um, que, coincidentemente, me pagavam uma dívida contraída há alguns dias e ambos pediram para não comentar que haviam me pagado. Até aí, tudo bem, só que ficamos tomando cerveja até mais tarde e já quando fechavam o caixa, apontava uma diferença contra eles de R$80,00 (Oitenta reais), justamente o valor que recebi. Provavelmente ambos pegaram o dinheiro do movimento daquele dia sem comunicar um com o outro, mas como tinham a consciência pesada, não comentaram muito sobre o "prejuízo". Ambos olharam para mim desconfiados, e resignados com o ocorrido disseram: "Deus nos proverá"

O barzinho do Tio Pedro, que antes era de propriedade de minha amiga Tereza, que hoje mora em Caraguatatuba, no litoral paulista, também era o nosso ponto de encontro. Rei e Haroldo depois de irem à bancarrota no Skalla, tentaram uma nova investida e o compraram de Tereza.

Nesse barzinho, o muro tinha na sua parte interna várias pinturas bonitas, o que decorava o barzinho no seu interior. Dentre as várias figuras desenhadas, tinha a de uma fazenda cheia de gado, com um curral de cerca de arame, na qual tinha uma das fileiras arrebentadas, o que deixava a pintura muito original. Estava a turma toda tomando uma cervejinha próximo ao balcão de atendimento, tendo como assunto principal a dor de cotovelo que um dos nossos amigos curtia. Ele estava sentado propositadamente afastado de nós, bem próximo ao muro, quando de repente ele se levantou e saiu em disparada rua afora, nos deixando embasbacados com a sua atitude. Tivemos que pegar um carro e já alcançá-lo depois da rodoviária, todo ofegante e trêmulo. O levamos de volta e lhe demos um bom banho para recuperá-lo da embriaguez, e quando um pouco melhor ele tentava explicar que correu, porque estava com a camisa vermelha e viu uma das vacas sair do muro, bufando de raiva em sua direção. Começávamos todos a nos preocupar com o seu estado psíquico, uma vez que uma semana a estes fatos ele tinha batido de frente no muro com sua motocicleta, no desenho de uma estrada que tinha ao lado do portão. Mas verificamos mais tarde, que não era nada sério. Quando reatou o namoro com sua grande paixão, voltou a beber pouco e controlar os impulsos. "Cada um curte a dor de cotovelo a sua maneira, ora essa", dizia ele, quando a turma pegava no seu pé para gozá-lo de suas atitudes pouco convencionais.

E por falar em atitudes não convencionais, esse nosso mesmo amigo, que é o sujeito mais "pão-duro" que se pode conhecer, conseguiu irritar Haroldo, sócio de Reinaldo, que é o sujeito mais calmo desse mundo. Haroldo, para morrer de repente, deve demorar três dias, no mínimo. Estávamos tomando uma cervejinha, eu, Haroldo e o dito cujo quando de repente o celular dele tocou, e a namorada exigiu a sua presença em certo lugar, imediatamente. Tínhamos tomado apenas uma cerveja, e ele queria pagar a parte dele na conta, e não sabia o valor. Propusemos dividir o valor da cerveja por três. Ele não concordava, alegando que estava saindo e ainda tinha cerveja na garrafa, e que dessa forma ele pagaria mais do que devia. Haroldo propôs pagar a cerveja, mas eu, de picardia, dei a entender a Haroldo que não pagasse, só pra ver até onde ele chegaria. Pois ele, com a ajuda de uma calculadora, fez uma regra de três composta e mais algumas outras contas para, com precisão, afirmar que tinha consumido apenas 112 ml. Dividiu o valor da cerveja pelo seu volume líquido e depois multiplicou pela tanto que bebeu. Nesse ínterim, a sua namorada já havia ligado mais umas quatro vezes, e eu e Haroldo tomamos mais umas três cervejas.

Pode parecer conversa de botequeiro, mas todos esses três casos foram a pura verdade.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Requebra que eu te dou um doce!

                                     (A um louco muito especial)

Quem de nós, moradores dos Bairros Morrinhos, Vila Guilhermina e adjacências, aqui em Montes Claros, que já não deparou com o famoso e folclórico Raimundo Requebra, ou simplesmente "Requebra", com o seu exótico e particular jeito de ser.
Há 30 anos morando na Vila Guilhermina, acostumei com o seu palavreado nada convencional, geralmente provocado por alguma criança, que, como eu, nos meus tempos, escondia de algum lugar e gritava: "Ô, requebra!".   Sim, Raimundo adorava rebolar, imitar uma mulher, mas não admitia que o chamassem de Requebra. Meus filhos hoje, fazem o mesmo. Escondem e quando ele aproxima, gritam e provocam o Requebra, também chamado por alguns de "Xêpa" , mas não são só as crianças que  gostam de provocar o Raimundo, não; nós, adultos, também. Eu, por exemplo, deixava o aparelho de som ligado a toda altura, preparava uma fita cassete de uma banda baiana chamada "Olodum", que tinha uma música que repetia várias vezes o seu apelido, e, quando ele estava por perto, eu apertava a tecla de pausa, que ficava suspensa como uma armadilha, propositadamente preparada para desarmá-la naquele ponto e naquele momento.

Há quase dois anos que o Raimundo requebra desapareceu, cogita-se até como certa a sua morte. Sumiram com Requebra, essa inofensiva criatura vítima de tantas covardias e indiferenças por parte de muitos seres chamados de humanos.

"Raimundo, você que já suportou tanto espancamento, até a água fervendo no corpo  já resistiu. Você que já suportou absurdos, "Rai", não é possível que liquidaram com você. Não! Se você desapareceu, foi porque bem quis, eu sei.

Cadê você, Raimundo? Você nunca demorou tanto a nos "encher o saco"!   Cadê você, Raimundo, que, através de gestos e gritos, ensinou todos os meus filhos a falar palavrões indecentes? Cadê você, Raimundo, que me obrigava a comprar um maço de cigarros, eu, que não fumo, só para todo dia lhe dar um e ter certeza que o veria, para, na verdade, através de você, saber sobre o meu próprio destino? Cadê você, Raimundo, que uma vez surpreso com um comportamento estranho meu, sabendo que não me era peculiar ficar carrancudo, simplesmente me disse: _Pense, pense, mas depois, dispense, se não você fica doido, viu?"

Conversei com muitos a respeito de Raimundo, mas ninguém sabe de completo quem é ele. Ele é indizivelmente ameaçado, complicado, frágil.

Raimundo é só um pressentimento, nunca uma afirmação, é uma nostalgia que se confunde com a própria natureza em busca de sua verdadeira forma e possibilidade, porque sabe que a verdadeira paz não vem dos caminhos racionais.

Quantas vezes eu me pergunto se Raimundo é de fato um doido ou, simplesmente, um homem muito corajoso que vive o perigo, a morte, o medo e anda peregrinando indisciplinado, com sonoras gargalhadas, cheio de sonhos, apenas porque é um enamorado da vida.

Eu não posso imaginar que alguém teve coragem de matar  alguém que só tinha a vida como patrimônio e por isso mesmo tinha como importante só o viver. Raimundo é amor e a prova dele, porque amor mesmo é sorriso na dor. Raimundo era um eremita, e quem tinha a oportunidade de conversar com ele, como eu, sabia que ele era não só um andarilho inconsciente, ele era acima de tudo, um sábio gozador. Ele foi o último dos extravagantes. Extravagante, por ser autêntico demais.

Se acabaram com o Raimundo é porque sabiam que ele era um herói que jamais iria fugir do seu destino e nem tentaria modificá-lo. Se acabaram com o "Xêpa" é porque morriam de inveja dele ter sido o escolhido pela natureza para ser o humano que representasse e expressasse a liberdade absoluta. Ele era "ele" mesmo.

"Por isso mesmo meu querido Xêpa, paro nesse momento de me lamentar, porque sei que você sempre será "você" onde estiver. Nesse momento, depois de quase um ano de espera, pego novamente aquela fita de olodum que sempre está no ponto de chamar por você, ligo o som, aperto o "play" e onde você estiver, com certeza, curtindo com a cara de alguém, escute como se fosse a voz de nós todos que sentimos saudades de você:

"Requebra, requebra sim, pode falar, poder rir..."

domingo, 28 de junho de 2015

Cidade Solidária

Há algum tempo eu presenciei um acontecimento entre três mendigos que me deixou bastante reflexivo:

Estava no ponto de lotação da praça Cel. Ribeiro, aqui em Montes Claros, quando vi um senhor estacionar seu belo carro e entregar a um mendigo um bonito embrulho e felicita-lo pela passagem do Natal, para logo em seguida retirar-se. 

O mendigo imediatamente abriu o embrulho, era um panetone muito fino, deu uma mordida e, para surpresa dele, detestou o produto. Olhou para o lado e se deparou comigo e outro mendigo comendo acarajé. Convidou-nos para provar do panetone. Eu recusei, mas o mendigo que estava ao meu lado provou, e como ele, também não gostou, mas mesmo assim, em retribuição, deu o restante do acarajé para ele, que se deliciou com o pequeno pedaço. Ficaram os dois conversando ate passar um transeunte todo sujo e esfarrapado, como eles mesmos, desse tipo que ignoramos e fazemos conjecturas a respeito, empurrando um carrinho de madeira cheia de papelão e latas. Como o elemento tinha um semblante muito carrancudo, talvez pela fadiga e cansaço, os outros dois, um pouco desconfiados, ficaram inseguros em abordá-lo, mas com um certo esforço ofereceram a ele um pedaço de panetone. O homem olhou, como não sabendo o que era aquilo, mas aceitou e, ao contrário dos dois, adorou e comeu muito do panetone. Em agradecimento, tirou de dentro do carrinho um pão de sal murcho recheado com salame e deu para os dois, que não só aceitaram, como se deliciaram com o novo lanche. Despediram-se e cada um tomou seu rumo.

Os povos se fecharam nos seus mundos e a cada dia se isolam cada vez mais dos seus semelhantes, mas aqui em Montes Claros, onde existem hoje todas as coisas que chamam a atenção para sinais encantadores de uma boa vida, se não na infraestrutura ainda, pelo menos na convivência harmoniosa entre os seus moradores, ultimamente tem me chamado a atenção as atitudes de amor e solidariedade dos seus moradores.

Pessoalmente tenho vivenciado muitas situações bonitas. Nesse caso dos dois mendigos, pode ter sido um acontecimento banal, mas sinceramente eu fiquei emocionado e não consigo tirar do meu pensamento. Eu, que leio muito, não encontrei em nenhum romance, em nenhum livro de autoajuda, em nenhuma tradução de estórias estrangeiras, nada que me marcasse tanto. Talvez por não ter sido um enredo fictício, talvez por ter sido uma cena real, palpável e bem na minha frente.

Quando as pessoas são solidárias, uma boa ação sempre provoca outras. Um presente oferecido por um senhor desencadeou uma sucessão de pequenos bons gestos. E se hoje estou expondo esses fatos, é apenas para deixar claro que devemos mudar nossas opiniões a respeito dessas pessoas ou pelo menos rever essas opiniões. Devemos não ser tão indiferentes a essas “pessoas nojentas” que, no nosso modo de entender, só bebem, roubam e estragam a imagem da cidade. Devemos ficar mais atentos a quem de fato rouba e denigre a imagem da cidade. Será quem são de fato os nojentos? Quem são os “engravatados e limpinhos?...” Eu vejo tantos políticos, intelectuais e artistas apregoando a solidariedade e o amor, o que acho até louvável da parte deles, mas será que palavras e suas “influências” resolvem alguma coisa? Para que tantas conversas, tantas reuniões e tantos “grandes acontecimentos”, para depois levar essas grandezas ao confinamento em seus mundos?

O que sei, é que homens que estão à margem da sociedade, passando fome, sentindo frio nas madrugadas nos bancos de praças, esses homens, que tinham todo direito à revolta interior, à amargura e ao ódio, é que me mostraram, pela naturalidade dos seus gestos, que a solidariedade é que é a expressão pura do amor.

É claro que a lembrança desse acontecimento não me traz só imagem agradável. Sempre trará a imagem de homens esfarrapados e sujos, que vivem num sofrimento anormal, num isolamento absoluto, incompreendido pela nossa insensatez hostil.

Mas Graças a Deus, como eu dizia no princípio, aqui em Montes Claros vem se instalando uma consciência mais humana, despertada por um espírito de mais espontaneidade nas relações interpessoais. Apesar de ser uma das maiores cidades do Estado de Minas Gerais, apesar de toda evolução tecnológica e de aqui ser um berço cultural riquíssimo, nos recusamos a ser influenciados por essa sinistra maneira de amputar o contato direto com as pessoas.

Desejo a todos nós, não só os montes-clarenses, que esses costumes de solidariedade que temos por aqui, se fundem cada vez mais com os aspectos bons da evolução e tecnologia, pra nos fundamentar, cada dias mais, no trabalho da paz e do amor com os nossos semelhantes.

Se é insensato e errado nem sequer pensar que alguém possa viver apenas para arruinar a vida do próximo, então, está na hora de levar não só os nossos pensamentos como as nossas ações mais a sério e expressá-los na ponderação, decência e humanidade. Que comecemos dos nossos quintais e gradativamente espalhemos pela cidade de fora a fora.

Pode até parecer um sonho, mas com esses dons intrínsecos do norte-mineiro e com essa nova consciência, acho que nós aqui da região teremos a chance de ver tudo melhorar.

É claro que não conseguiremos acabar com a mendicância e com a miséria, pois a cidade é grande e convidativa, mas não podemos conformar com a indiferença e desprezo por essas pessoas. Enquanto um elemento desses sentir frio e passar fome, temos que nos manifestar e ajudá-los, de qualquer maneira. Nós que queremos bem a Montes Claros e a quem vier morar nela, temos o dever de fazer valer a velha máxima: “Que a vida valha a pena de ser vivida”.

Em nome desse sublime instinto arraigado em nosso ser, é que me embasa a esperança de uma vida melhor para nossos conterrâneos e estrangeiros que moram nesta cidade – esta sim, maravilhosa!

sábado, 27 de junho de 2015

Natal

Durante todo o ano apregoamos a solidariedade, o amor e a paz, mas nessa época vem a consciência e a certeza de que pensamos muito, sentimos muito e não exprimimos nada em ação.

Apesar do natal de hoje não mais externar o seu verdadeiro sentido, ele ainda se torna muito importante, porque ainda desperta essa consciência de nossa inércia. É por isso que algumas pessoas nessa época sentem uma leve indisposição interior, uma certa nostalgia. Ela é causada por isso, pela consciência de nossa mesquinhez e egoísmo. De que adianta passar todo o ano “em branco” e no Natal se dar conta disso?

E agora não adianta querer descarregar a consciência pesada comprando uns presentinhos descartáveis. Se tivermos bons sentimentos durante todo o ano, porque não os exprimir em ação continuamente?

Não estou falando só de presentes materiais, estou falando também de presentes espirituais como solidariedade, afeto, compreensão, tolerância, paz e amor.

Por que não sermos amorosos no dia-a-dia? Temos que parar de desviar os focos das atenções só para nós mesmos. Nos consideramos uns coitadinhos, que nos tomamos todo o tempo e dedicação.

Que o verdadeiro sentido do Natal, o nascimento de Cristo, esse homem que foi um exemplo de vida, nos faça reaver nossas atitudes do cotidiano e destrua esse nosso egoísmo, para que imediatamente o troquemos pela reciprocidade de sentimentos com os nossos irmãos.

Que no próximo natal troquemos essa nostalgia, sentida hoje, por uma sensação de tranquilidade e paz ocasionada pela certeza da doação física, espiritual e material no decorrer de todo o ano.

Que a nossa homenagem, que nossa maneira de expressar o amor por Jesus Cristo seja externada com gestos contínuos de solidariedade, de carinho, de afeto, de tudo que é maravilhoso.

Que nosso “sentimento de culpa” e a nostalgia, que fazem aniversário em todo Natal, sejam substituídos por uma felicidade imensa e por uma certeza gratificante de Que Jesus Cristo zela por nós.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sabe onde?

_ Aqui não adianta me perguntar nada!
_ Por que?
_ Sei lá!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sou velho, naturalmente.

_ Não faço cirurgias plásticos, não uso cremes e outros artifícios não naturais?

_ Por quê?

_ Essas coisas roubam a identidade do corpo.

_ Não tem medo de envelhecer mais rápido e ser menos atrativa?

_ Não sabe que a feiura que a natureza esculpe é a sensualidade verdadeira?

_ Sei que podemos usar desses artifícios sem culpa. Qual mal há nisso?

_ Não conformar em envelhecer naturalmente e não conformar com
 o desgaste do viver é ingratidão com os deuses.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Concepção de religiosidade

_ Charles, por que você parou de freqüentar as igrejas?

_ Porque achava que poderia encontrar na igreja algo que poderia me ajudar a desobstruir um ponto escuro de minha personalidade, mas logo me senti superficial e estúpido.

_ Não entendi!

_ Chegando lá, ao invés de eles me ajudarem a desobstruir esta parte obscura da minha personalidade, eles queriam eram extirpá-la completamente. Eu estava apenas um pouco triste. Queria me aliviar um pouco dessa tristeza e eles queriam que eu me julgasse um hospedeiro de horrores, que eu tivesse a consciência de um grande fracasso, queriam manipular meu livre-arbítrio para me punirem e tê-los como meu consolo.

_ Eu também procurei quase pelo mesmo motivo e encontrei na religião a felicidade e tudo de importante.

_ Sim, essa concepção de espiritualidade é muito relativa. Cada um enxerga com um prisma pessoal. Eu não me absteria tanto para encontrá-la. Quando uma pessoa encontra uma coisa importante na vida, não quer dizer que precise renunciar a todas as outras. Geralmente as pessoas fazem isso com a religião e com o casamento e não conseguem manter a felicidade por muito tempo. Elas exigem fuga da rotina.

_ Mas você não acha que independentemente dos métodos usados nas igrejas ou nos templos, o que vale é a nossa intenção ao procurar e também a fé que a gente carrega dentro de nós?

_ Eu acho. É justamente a inocência do fiel que o salva. Talvez eu não tenha essa inocência. O que pude perceber é que a filosofia dos homens das igrejas é justamente de lhe mostrar que você não tem nenhuma fé e que precisa desesperadamente da ajuda deles. Eu disse “deles” e não de Deus.

_ Como assim?

_ Nos padres, reverendos, pastores, etc., a vaidade é tanta que o amor de ser idolatrado por nós é mais forte que a fé que eles deveriam ter em Deus e dos ensinamentos que eles deveriam nos passar.

_ Minha mãe é evangélica, vai aos cultos quase todos os dias. Eu sou católica e vou as missas toda semana. Tanto eu, quanto ela, nos sentimos muito bem. Não percebemos isso.

_ Ótimo! Eu também queria conseguir isso.

_ Por que não volta freqüentar às igrejas com uma nova perspectiva? Talvez você se condicionou a tomar por certo essas suas impressões.

_ Ainda não. Como eu disse ainda me falta a inocência necessária.

_ Então existem muitos inocentes, pois a cada dia as igrejas estão mais lotadas e freqüentadas diariamente pelos fiéis.

_ As pessoas, hoje, são criadas num sistema de que basta freqüentar igrejas e pronto, você estará cumprindo as suas obrigações espirituais. Quanto ao fato de ir à missa toda semana, não quer dizer muito. Tem pessoas que vão todos os dias, isso não tem nada a ver com fé e satisfação. Tem gente que não vai dia nenhum e também se sente bem. Tem pessoas que cheiram religião e não sabem o que é Deus. Muitas pessoas vão por ser vítimas de um sistema mecanizado contínuo sem ter certeza de saber o que vão encontrar. Aquela estória: “ Religião? Todo mundo tem, deve ser o certo”. Outras vão porque sabem que vão encontrar  alguém que pode inspirar simpatia e há quem vá apenas por achar aquilo tudo parecido com uma cena teatral gratuita.

_ Mas há muitos que vão porque realmente se sentem bem. É o meu caso, repito.

_ Claro, alguns vão porque realmente se encontram lá. O que eu estou querendo lhe dizer é que não precisamos de submissões para esperar pela glória ou pela paz. Ah! Eu ia me esquecendo, há os que procuram certas igrejas porque sabem que não podem chegar puros no inferno.

_ Você está fazendo piadinhas com algo sério.

 _ É sério. O fato de alguém ir às missas todos os dias não o faz um verdadeiro crente. Seria melhor até adiar algumas visitas e praticar alguma boa ação por aí. Primeiro é preciso  ser bom, para depois ser religioso. O que, é claro, não quer dizer que quem freqüenta diariamente, seja ruim. Muitas pessoas vulgares procuram pela igreja, para tentar mascarar a má índole. A usam como uma vestimenta para cobrir  alma bastarda e ímpia.

_ A religião não esconde a verdadeira conduta de ninguém. Mas
não podemos ter a presunção de julgar o teor da fé de alguém.

_ Qual o “teor” que pode existir na fé de um mau caráter?

_ Mas tem pessoas que procuram pela igreja justamente para modelar o caráter de acordo com a decência e dos bons princípios.

_ Claro que sim, mas a igreja não pode representar e querer se passar como a única tábua de salvação. Ela nunca substituirá a interioridade da pessoa. Lá sim as pessoas  estão mais propensas a encontrar Deus. Lá, sim, existe a verdade nua e crua. Quem tiver um caráter que pode ser mudado para o bem, com certeza encontrará consigo primeiro. Lá não existe simulação.

_ Mas é justamente a função da igreja. Fazer com que as pessoas encontrem essa interioridade. Além do mais, tem muitas pessoas que não são maus caráters, apenas comete algum ato errado num momento de  desespero e são convidadas com boa fé para se redimirem  e purificarem com a palavra do Senhor.

_ Sim, e quando chegam lá, como eu já disse, os comandantes das mesmas de propósito deixam transparecer que essas pessoas são mais pecadoras do que imaginam e os deixam mais apavoradas dando entender que eles precisam urgentemente deles. Eu disse “deles” e não de Deus, repito isso novamente. Entende? Eles oferecem a ponte que levam para “ o outro lado ”. Além das pessoas não saberem saber se o lado de lá oferecido é o lado certo, ainda tem que  pagar um caro pedágio pela travessia.

_ Mas realmente essas pessoas precisam de alguém que os esclareçam, você não acha? Graças à Deus as igrejas estão cada vez mais cheias.

_Eu acho. Mas só  que esses que deviam esclarecer vêm é com uma chantagem afetiva que mais tarde será transformada em dinheiro. Depois dessa transformação o pecado vai deixando de ser grave, consoante ao dízimo ou contribuição recebida. E essas pessoas ainda vão ter futuramente a missão de arrebanhar outro irmão e alcançar nele também o pecado para que passe pelo mesmo processo aprisionando-o para depois chantageá-lo. Um, matando a possibilidade da salvação do outro. A lotação de muitas igrejas é proveniente dessa caçada. É a fé sendo traída, mentida, negada. Nessas igrejas não têm projetos de amor, realizações e conquistas. Elas tem com prioridade relações baseadas no desejo financeiro, ignorando o vasto campo espiritual. Os hipócritas não nascem, são produzidos por alucinações religiosas. Eles gritam em demasia em suas igrejas, porque sabem que o silêncio os denunciariam.

_ Mas você não pode generalizar e achar que todos agem dessa maneira.

_ Claro que não. Tem igrejas boas, mas que, deixam no melhor das hipóteses,  a parte espiritual desempenhar um papel secundário. É uma pena ter que admitir que as igrejas de hoje fazem uma concorrência muito grande entre elas, igual comércio mesmo. Qual arrasta mais fiéis?(consumidores) Qual é a mais popular? Coisas assim. E pouquíssimas mostrando os desígnios e norte para os nossos destinos, e nós, os “consumidores da fé” não tem nenhum procon religioso para reclamar. Eles dividiram Deus e cada um acha que tem o pedaço melhor. É impossível viver com fé e felicidade dentro de um conjunto de convicções desse.

_ Você não encontrou nada que lhe enriqueceu espiritualmente nas igrejas?

_ Eu, se não tivesse minha filosofia de vida formada, lá eu tinha perdido a fantasia e o gosto de viver a vida. Segundo a vontade deles morreria sem gozar os prazeres deixados por Deus. Eles não dão o mínimo de liberdade para sermos felizes. A felicidade sem liberdade é impossível. A religião que eu vi por aí é muito parecida com o casamento. Eles não aceitam o ineditismo e as surpresas. Quem não sabe o que é sofrimento, aprende lá dentro. Só que eles tentam ensinar como suportar resignado a canga desse sofrimento. Eles deviam nos ensinar era agir, mas para eles não é conveniente. Eu descobri que não sou tão ruim assim. Mas a visita na igreja me enriqueceu, pois conheci pessoas maravilhosas, humildes e bem intencionadas que hoje são grandes   amigos  meus,  apesar  de  eu  não  mais ser  um “ irmão”.

_Então, na sua concepção não existe religião?

_ Existe! A que se constrói no templo íntimo. É nessa que nasce a fé perfeita.

_ Para você o que é ter fé perfeita?

_ Para mim, todo aquele que vive gostosamente a vida e tem a paixão de induzir aos outros essa sensação. É aquele que não limita o próprio ser. É aquele que não aceita superficialidades. É aquele que não é meio verdadeiro, meio amante, meio sério, meio honesto. É aquele que se não acreditasse, não seria meio ateu.

_ Será que essas pessoas não teriam como todas, um vazio que não sabem explicar?

_ É justamente quem não tem necessidade de preencher esse vazio é os que são os felizes.

_ Você foi na igreja preencher esse vazio?

_ Sim, fui! Lá não enchi o meu vazio, enchi foi o meu saco.

_ Puxa vida, não brinca, repito. E se  a religião for obrigatoriamente o caminho para o céu?

_ Primeiro é preciso entender o que de fato seja religião. Se for a que eu encontrei por aí, aí sim, terei certeza de que Deus não me quer por lá.

_ Você não consegue falar sério? Sinal que deve ter realmente melhorado. Pois o senso de humor seu é ótimo.

_ Falando sério, eu gostaria que você entendesse o que eu estou querendo lhe dizer. É no nosso interior que Deus está, é onde podemos reconhecê-lo e senti-lo arraigado em nosso ser. Depois de encontrar Deus por si mesmo e de si mesmo é que devemos procurar pelas igrejas e tirar de lá os irmãos submissos e juntá-los a nós.  Algumas pessoas, para fugir de uma infelicidade, procuram pelas igrejas, mas lá descobrem que o compromisso assumido com a religião não é um substituto para um compromisso humano. Todos nós queremos  encontrar Deus. Procuramos a religião para isso, mas geralmente elas cobram em troca dessa busca o abandono do mortal comum. A maioria dos chamados fiéis são vítimas dessa presunção de uma fé inabalada se fecham num mundo inacessível, desprezando tudo que não é conveniente aos seus anseios descobertos na igreja. Se a religião não for vivida no nível correto e também não respeitar a nossa parte animal, ela ao invés de nos fortalecer nos deixa vulneráveis a tudo e nunca encontraremos a verdadeira paz, pois ficamos cegos e subordinados à canga de seus dogmas.

_Eu  nunca escutei uma opinião tão extremista com relação a religião na boca de alguém que acredita tanto em Deus, como você.

_ Não é extremismo, não. Para mim a grande tragédia é limitar o ser
humano e fazer concessões. Eu jamais entenderei e aceitarei essas aberrações. O que existe por aí, não é a igreja que Deus imaginou. O que tem aí hoje é um absurdo. Ninguém deve ir ás igrejas de hoje perguntar o que é bom para si mesmo. Essa expressão urgente é encontrada na conseqüência de um encontro com o amor livre e não no aprisionado na conveniência das igrejas. Quantos e quantos erros se praticam em nome de uma fidelidade à certos padres, pastores, bispos, reverendos e sei lá mais o que. Quantas angústias e tormentos e desejos aprisionados para ser admirado por pessoas que por mais que tenham boas intenções não podem substituir  as nossas próprias razões.

_ Todos têm certas obrigações para cumprir, seja ela pessoal, social ou religiosa.

_ Acima dessas obrigações, meu caro, estão todos os nossos prazeres e autenticidades. Ninguém pode deixar de “ser” de verdade, para ser um produto inventado pelos outros. Podemos tudo: Amar, odiar, beijar, cuspir, atiçar fogo, afogar, ascender, declinar, avivar, suicidar. Somos a fronteira do tudo e do nada.

_ Muitos podem cair nesse buraco do nada sem terem a noção do que é fé e religião.

_ Fé e liberdade,  é cair, se preciso for, mas no buraco que nós próprio cavamos. As nossas amarguras, as nossas tristezas e nossas desolações vêm é da satisfação que temos que dar às pessoas, incluindo os religiosos. Desculpa a expressão,  mas “à puta que pariu” todos eles. Nunca mais farei nada por obrigação e imposição dos outros. Se for preciso, pego o meu surrão de couro e vou embora por esse mundão de meu Deus.

_ Meu Deus, as igrejas só existem para ratificar a nossa fé. Os padres, pastores estão lá apenas para pregarem a verdade. Sem essas verdades não somos nada.

_ Não há diferença entre um mentiroso e um pregador de verdades ordinárias. Quem pode acredita, filha, quem não, procura uma igreja. Mas uma coisa eu lhe digo: O Deus dos hipócritas não existe. Ou seja, na igreja, encontra outra coisa e chamam de Deus.

_ Qual é a sua concepção de Deus, papai?

_ Você tem bons sentimentos no coração e quer colocá-los em prática, filha?

_ Claro! Mas você não respondeu minha pergunta.

_ Então, filha. Saia do fanatismo das religiões. Diminua as visitas nos templos e pegue os seus sentimentos e... “Dê-os!”

_ Entendi.

_ Pois é. Dê os bons sentimentos para os outros e sentirá que Deus é tão somente isso. A entrega total de si, que automaticamente se torna um encontro e uma recepção divina. Dê... Dê......Deus.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O amor não pode existir sem paixão, e a paixão sem o amor.

_ O que é o amor?

_ Entre um homem e uma mulher o que chamam de amor conheço como paixão, embora, um seja a sombra do outro.

_ De jeito nenhum. Amar uma pessoa é bem diferente de se está apaixonada por ela. A paixão é apenas uma atração física fulminante. Amar de verdade é sentir a presença dessa pessoa sempre, mesmo quando ela está muito longe.

_ Como amar uma mulher sem sentir atraído por ela.

_ Amar é um todo. Não é só atração física.

_ É claro que não é só isso!

_ Você não sabe o que é altruísmo, solidariedade, caridade, colaboração? Num relacionamento entre um casal tem que existir isso.

_ Com certeza! Sentimos isso pelo ser humano em geral, mas na mulher que escolhemos para amar, além disso tudo tem a carnalidade palpitando e desejando sexo enquanto a libido existir.

_ Você não conseguiria, por um motivo ou outro, amar sua mulher de longe?

_ De jeito nenhum! Quando estou na cozinha e ela no quarto, já sinto que milhares de quilômetros já estão nos separando.

_ Com certeza, você não sabe diferenciar um sentimento do outro.

_ Não sei, porque não existe. Um é apenas sinônimo do outro.

_ Sua comparação é esdrúxula e ofensiva!

_ Ofensiva para você, que já tem uma opinião estereotipada e arbitrária dos  próprios pensamentos.

_ É melhor não falarmos nada. A sua ignorância me assusta.

_ A nossa diferença nos pontos de vista não me faz um ignorante. Cada um  enxerga as coisas com os próprios olhos.

_ Então você deve ser cego!

_ Não sou não. Muitas vezes o real só é visto com os olhos da alma.

_ O seu real!

_ O seu deve ser mais verdadeiro.

_ Não existe real mais real do que outro. O que você chama de real é mentira.

_ Existe sim. Existe a sua verdade, a minha e a verdade verdadeira que só Deus sabe qual é.

_ Ele sabe e nos transmite isso. Mas como você não freqüenta nenhuma igreja...

_ Cuidado que na sua igreja, o capeta esta travestido de Deus e...

 _ Você é um herege. Eu me recuso a discutir qualquer assunto com você.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sutilezas

_ Quem é você?

_ Eu sou Charles, também chamado de louco e irresponsável.

_ Por que?

_ Porque revelo meus sentimentos e manifesto meus pensamentos independentemente das conveniências sociais.

_ E qual a loucura que existe nisso?

_ Hoje em dia é proibido você ser você.

_ Então, eu não sou eu?

_ Ser você num mundo em que todos querem te refazer, é difícil, mas essa pergunta só deve ser feita a si próprio.

_ Mas eu tenho certeza que eu sou eu mesmo.

_ Será?

_ Você está tentando me confundi.

_ De jeito nenhum! É que as pessoas nos anulam sutilmente, sem nos apercebermos disso.

_ E você? Tem certeza que você é você mesmo?

_ Sou! Mas só sou porque descobri as sutilezas que eles usam.

_ E quais são?

_ Elas não podem ser ensinadas, só percebidas.

domingo, 21 de junho de 2015

Ridículas

_ Cula não faz nada porque acha o amor ridículo. 
_ E essa outra aí que ama exageradamente? 
_ Ri de Cula! 

sábado, 20 de junho de 2015

Discussão insípida

_ Não basta está nua sua crua!

_ Por que então não teve o fogo suficiente para me deixar no ponto?

_ A gente é que se queima!

_ Não, sem o outro a gente derrete, mas não cozinha.

_ Não é outro que te cozinha, o outro apenas regula o calor do fogo.

_ Seu fogo é baixo.

_ Meu fogo não cozinha o que não é comestível.

_ Seu fogo é previsível. Acostumou com uma só temperatura.

_ Você não tem sabor!

_ Então vá comer merda, seu idiota!

_ Merda pelo menos deve ter algum gosto, insípida!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Amor e paixão

_ Quem é você?

_ Eu? Não sei me auto-avaliar.

_ Você sabia que tem pessoas ao seu lado esperando muito de você?

_ Assim como não exijo que as pessoas correspondem aos meus anseios, também não aceito que exijam isso de mim.

_ E os seus amigos?

_ Guardo pouquíssimos amigos no peito, e esses me conhecem bem.

_ E o amor, você não tem nenhum?

_ O que você chama de amor, para mim ainda não existe. Vivo é de sexo.

_ Mas isso não é vida!

_ Cada um enxerga a sua com os olhos da própria cara.

_ A vida é passageira. É preciso preparar o espírito para os céus.

_ Sim, a vida é fugaz! É nela que tenho que me desdobrar. Hoje aqui sou corpo e cm ele quero a vida gozar.

_ Também temos que realizar o espírito, você sabia?

_ Cada um realiza a seu modo. Meu espírito se funde na carne e se realiza quando executa, da melhor maneira possível, a arte física de amar.

_ Desconjuro! Você não tem vontade de se apaixonar?

_Agora estamos começando a nos entender. Apaixonar, sim, quero muito. Mas como você, não quero deixar de viver até isso acontecer.

_ Mas com essas atitudes você não conquistará ninguém!

_ Quando uma paixão surge, ela não se dá ao trabalho de conquistar ninguém. Ela não sabe o que é conquista nem essas artimanhas que você chama de amor usa.

_ A paixão é passageira, você não sabe simplesmente amar?

_ Passageiros são esses relacionamentos impetuosos, que se esvai rapidamente na primeira dificuldade que surge e deixam amarguras. Mas isso nunca foi paixão.

_ Então, o que é?

_ É ilusão! Onde o relacionamento tem um sentimento unilateral, onde apenas um dos parceiros tem a intensidade do sentimento. Esse desentrosamento desmorona qualquer relação, mesmo o que você chama de amor.

_ O que é paixão então?

_ É um amor arrebatador, verdadeiro, total, absoluto e contagiante. É um relacionamento onde os parceiros se envolvem com tanta reciprocidade de sentimentos, que nenhum consegue resistir a tamanha emoção. É o ápice do amor que só será superado, se Deus criar um novo sentimento.

_ Muito bonito! Mas continuo achando que não passa de um sonho, e passageiro.

_Sonho passageiro para você que se acostumou a viver relacionamentos limitados.

_ Você acha que realizará esse sonho?

_ Essas bagatelas que você chama de amor não são coisas minhas, com certeza a paixão será o arremate de minha vida. Veja bem! O que chamo de paixão não tem a ver com o que você chama de paixão. Paixão pra mim é a arte de amar, sem fazer nenhum tipo de concessão.

_ Até que você pensa bonito, mas será que suas atitudes de hoje não subornam os seus verdadeiros desejos?

_ Pelo contrário! É no tesão e no gozo que se impõe a nossa vontade de amar.

_ Mas isso não é depravação?

_ Depravado, dizia Sócrates: " é quem ama o corpo mais do que a alma". Eu amo os dois na mesma proporção. Não será a verdadeira arte de amar?

_ Mas você fala mais da carnalidade do que do amor.

_ O amor sem carnalidade é muito teórico.

_ Mas a carnalidade sem amor é animalesca.

_ O amor é mais influenciado por essa carnalidade do que por qualquer outra coisa.

_ Você não apaixonaria por uma mulher, se não transasse com ela?

_ Você está me entendendo mal. Claro que apaixonaria. O sexo apenas corrobora, a paixão já vem possuída de gozos e tesões.

_ Há quem diga o contrário. Que a paixão se extingue com o gozo.

_ Há quem confunda tara com paixão.

_ Eu não me entregaria a uma tentação inútil!

_ Sua colocação é sem nexo. Se você não se entregou, não pode afirmar que ela é inútil. Talvez você não saiba o que seja de fato uma "tentação".

_ É bom que seja assim, uma mulher tem que ser reservada.

_ Se você não sabe, fique sabendo: Uma mulher é uma mulher mais as tentações que ela não resistiu. Você se impõe demais ás suas próprias regras e exortações. Isso demais é veneno.

- Venenoso é você que quer me prostituir!

_ Não, absolutamente, não! O que eu quero mesmo é lhe "divinizar".

_ Divinizar? Você, com essa libido incontrolável?!

_ Há mulheres que inspiram algo que vão além das atrações físicas e mesmo você com esse corpo sedutor, se impõe mesmo é pelo jeitinho puro, que é a promessa de uma grande expressão de amor.

_ Você está se contradizendo.

_ Não é isso, náo! Eu me sinto cedendo. Eu tenho impressão que á a minha tão sonhada paixão.

_ Ó meu Deus! Será? Eu também estou com essa sensação.

_ Agora não teremos mais margens para reflexões, a não ser a certeza de que cada dia aumentará essas nossas emoções.