(Sobre)viver
Perdi a
agressividade. Estou sem crises nervosas, existenciais e financeiras. Meu
sangue não está mais febril. Estou me rendendo às exigências da sociedade, do
estereotipado e do previsível. Será que envelheci?
Mas me
disseram que carregamos com a gente por toda a vida as idades que já vivemos.
Será? Eu, até pouco tempo, mandava tudo à merda, brigava por quase tudo. Paz! É
isso! Estou sentindo paz! Alguém me disse que é a paz que faz a gente sentir
assim.
Paz? O
mundo continua doente, sacana, injusto e sangrento e eu aqui, conformado,
parado, pensando. Se isso for o que as pessoas chamam de paz, na verdade, não
passa de uma ira camuflada, de uma máscara, de uma anestesia social.
Cuidado
amigos, é isso que a vida pode fazer com a gente, quando se comete o crime de
se “enquadrar no contexto”, de ser chamado de lúcido. Agora só me falta
converter religiosamente, fazer doações para pastores imbecis e deixar meu
filho e meu vizinho passar fome. Devo o
que, hein? Ser o Charlão de antigamente? Isso. Quero rebelar outra vez. A
“sensatez” (Hipócritas filhos da puta) não tem a minha cara, embora, até pouco
tempo, parecesse com ela.
Acho que
preciso conversar com mais crianças, com loucos e com um bêbado. È isso.
Decidido. Preciso da verdade ingênua das
crianças, da verdade roubada dos loucos e da verdade reprimida que acha uma
brecha nos alcoólatras. Nessas verdades (sagradas e profanas) é que se deve
achar o verdadeiro sentido de tudo. Mas...