Quem sou
eu?
Um ser
humano ou um traste qualquer? Uma pessoa insensível ou apenas alguém que ainda
não se tocou? Não me sei avaliar. Acho que o contraste de todas as coisas achou
na minha alma, a morada. Sou alegre, sou triste, descontraído, sisudo, sou
discreto, sou espalhafatoso. Sim! Todos têm um pouco disso tudo, eu sei, mas em
todos uma coisa substitui a outra, não estão ao mesmo tempo, em mim eles
residem simultaneamente, me privando de “ser” cada coisa integralmente. Droga!
Até quando será que ficarei sufocado por pensamentos fantasmagóricos que me
atordoam a todo instante?
Pensando
bem, para que me auto questionar. Para
que saber o que de fato sou? Sinto-me horrivelmente infeliz porque estou
terrivelmente na solidão. Eu poderia está me contradizendo nesse momento,
porque sempre disse que gostava de ficar só, mas gosto da solidão que eu
próprio me concedo e não essa que me foi impingida. É essa a minha maldição.
Hoje sou
obrigado a crer que não sou a pureza que eu imaginava que fosse. Sou um
recipiente que tem um liquido aparentemente cristalino, mas que se revela um
mar de sujeira se for agitado.
Por que
estou tão cheio de lama? Eu sei! Foi porque fechei num mundo particular
querendo resolver um problema que deveria ser resolvido a dois. Eu sempre
admirei as pessoas solitárias. Achava que elas despertavam sentimentos dignos
de inveja, mas se o que elas sentem for o que sinto nesse instante, não passa
de um excessivo e atormentado abandono. Pensando bem, nem um tipo de solidão
dever ser bom ou invejado, todas elas devem ser terríveis e devem nos devorar
pouco a pouco ou será que estou confundindo tudo?
O que sinto agora pode não ser solidão. Esse
barulho que sinto e escuto dentro de mim pode ser a agitação da dilaceração de
minha alma, provocada pelo sentimento chamado remorso. Sim, com meus rigores
loucos arruinei dois casamentos e me afastei do convívio direto com os meus
filhos maravilhosos. Deve ser isso, ninguém se sente solitário quando tem a
consciência tranqüila. Como é possível meu Deus, eu com tanto amor dentro de
mim e não conseguiu fazer ninguém feliz? Será que tenho nos lábios o sabor do
beijo do amor e nos mesmos lábios o sopro que apaga a chama desse amor? Ou o
que chamo de amor não passa de arrebatamentos desencontrados? Será que eu não
vou ter mais coragem de realizar nas pessoas os meus ímpetos, excessos e meus
desejos, mesmo quando eu tiver a certeza de me ver interiorizado nelas? Choro
nos meus pensamentos, não porque estou só, porque agora tenho certeza que a
perfeita aliança do que eu queria, não existe, e não aprendi e não aprenderei a
me conformar a persistir num relacionamento que não se associa com um grande
amor.